Conceitos em evidência
Muito simples: um conceito pode ser instrumento de ataque às formas de exercício do poder que nos constrangem cotidianamente. Cada um de nós possui as armas e as ferramentas para fazermos frente aos excessos do poder contemporâneo.
Optamos por conceber uma imagem-conceito que agregasse dois grandes referenciais teóricos para o evento O sujeito do Presente e para o grupo de pesquisa Limiar: Michel Foucault e Gilles Deleuze. Precisamente, uma vez que nos propomos problematizar o sujeito do e no presente, decidimos colocar em evidência -- e também em cheque! - duas interpretações sobre o que estamos deixando de ser e o que estamos nos tornando: a Sociedade Disciplinar e a Sociedade de Controle.
Em 1785, o jurista inglês Jeremy Bentham concebeu a prisão ideal que até o século XX foi tomada como modelo penal. A arquitetura circular em anéis concêntricos e a linguagem espacial do panóptico permitiam a justa distribuição espacial dos detentos fazendo da visibilidade uma armadilha. Ao atravessar as celas do exterior para interior, a luminosidade dissocia o par ver-ser visto, quando o detento jamais sabe se está sendo vigiado. Inverificável e racionalizado, o poder maximiza seus efeitos.
O estado consciente e permanente de vigilância assegura o funcionamento automático do poder. Mais do que uma clausura, trata-se uma máquina de produzir corpos dóceis. Desde o século XVIII, esta maquinaria mobilizou todo o corpo social ao docilizar e disciplinarizar os indivíduos e, assim, constituir o sujeito moderno. Segundo Foucault, o panóptico "deve ser compreendido como um modelo generalizável de funcionamento; uma maneira de definir as relações de poder com a vida cotidiana dos homens" (FOUCAULT, 2013, p. 194).
Entretanto, não somos mais modernos; ao menos não nos reconhecemos tão modernos o quanto antes. O declínio da arquitetura panóptica e a ascensão das tornozeleiras eletrônicas e geolocalizáveis sinaliza que o presente não se define tanto pela produção de corpos dóceis. Se cada sociedade produz sua máquina ou arquitetura ideal, qual seria a nossa? Segundo Deleuze, nosso tipo ideal é cibernético. Estaríamos mergulhando, às cegas, em uma Sociedade de Controle, cuja topografia é reticular e a vigilância é infinita.
Com a emergência das redes, todas as clausuras modernas tornaram-se modulares, "auto-deformantes", na qual o indivíduo não se encontra sob a armadilha da visibilidade, mas sob os perigos da emulação sem origem. Segundo Deleuze (1992), "numa sociedade de controle a empresa substituiu a fábrica, e a empresa é uma alma, um gás [...] se esforça mais profundamente em impor uma modulação para cada salário, num estado de perpétua metaestabilidade" (p 221).
Temos consciência do desafio de problematizar os modos como nos tornamos o que somos e estamos em vias de nos tornar. Como Deleuze (1992) nos alerta, não se trata de perguntarmos qual dos regimes -- de confinamento ou de controle -- é mais duro ou mais tolerável, mas como neles se enfrentam liberações e sujeições, pois "não cabe temer ou esperar, mas buscar novas armas" (p. 220).
DELEUZE, G. Post-Scriptum sobre a sociedade de controle. In: DELEUZE, G. Conversações. São Paulo: Editora 34, 1992.
Programação
Workshop de Estudos de Linguagem: O Sujeito do Presente
Módulo 1
Dia 3 de outubro
Tarde
14h:30min - 17h:30min
Minicurso - História da Loucura
Prof. Dr. Eduardo Sugizaki
Noite
19h
Conferência de abertura: O sujeito e o poder - Nietzsche, Freud e Foucault
Prof. Dr. Eduardo Sugizaki
Dia 04 de outubro
Tarde
14h:30min - 17h:30min
Minicurso - História da Loucura | 14h:30min - 17h:30min
Prof. Dr. Eduardo Sugizaki
Noite
19h
Sessão de filmes sobre estética e política
Prof. Dr. Cristina Batista Araújo
Dia 05 de outubro
Tarde
14h:30min - 17h:30min
Encontro dos Grupos de Pesquisa em Linguística, Ciências Humanas, Sociais e Aplicadas do Vale do Araguaia
Noite
19h
Conferência: Constituição discursiva do sujeito
Prof. Dr. Kátia Menezes de Sousa
Módulo 2
21 de novembro
Tarde
Oficina metodológica: Afinal, quem precisa de etnografia?
Doutoranda em Antropologia Sckarleth Alves Martins
Noite
Conferência: Nietzsche, os obstáculos políticos/morais para a constituição de si
Profª. Dr. Adriana Delbó Lopes
22 de novembro
Tarde
Oficina metodológica
Noite
Conferência: Educação e a constituição de Si - um passeio pela mitologia do processo civilizatório
Prof. Dr. Warley Carlos de Souza
Módulo 3
10 de dezembro
Tarde
Mostra de pesquisa científica
Noite
Conferência: Normatização e ressentimento na obra de Foucault
Prof. Dr. Paulo Vaz
11 de dezembro
Tarde
Mostra de pesquisa científica
Noite
Mostra de produções culturais, músicas, poesias, cordéis, apresentações culturais, teatro, lançamento de livros