Por uma plenitude do possível:

 potência da vida


Aproximam-se as comemorações em torno da publicação de Vigiar e Punir do intelectual Michel Foucault, ocorrida em 1975, e é difícil supor que os interessados no pensamento movente deste autor irão se mobilizar em torno de um requiem aeternam à obra foucaultiana. Pelo contrário! É sabido que precisamos fazer esse pensamento ranger diante da nossa atualidade para que ele encontre não um descanso eterno, mas retorne agitado enquanto ainda demonstra ser capaz de produzir diferença e singularidade.

Cerca de 50 anos após o livro primeiro da genealogia foucaultiana (Pinho, 2014) que teve em nossos corpos seu começo e seu fim (Ribeiro, 2018), o grupo de pesquisa Limiar - Estudos de Linguagem e Mídia (CNPq/2010) inicia um debate coletivo sobre a composição de diferentes forças no horizonte da nossa contemporaneidade que almejam disciplinar o escândalo da vida, controlar os modos de si e capturar nossas existências, conduzindo nossos processos de subjetivação.

Afinal, se os conceitos foucaultianos podem ser instrumentos de ataque às formas cotidianas de exercício do poder, como registramos ao longo da primeira edição d'O sujeito do presente em 2018, nesta edição o grupo explora a potência da vida, as subjetividades não assimiláveis, a plenitude do possível que se ensaia em modos de vida emergentes no nosso agora, e que se encarnam nos corpos não domesticados do nosso tempo. Enfim, descrever vidas não fascistas em meio a incessantes disparates.

Nesta tarefa de rastrear o que estamos em vias de nos tornar e deixando de ser, ou seja, dizer a nossa atualidade, o grupo Limiar busca apoio em pesquisadoras que também foram há tempos atravessadas pelo pensamento de Michel Foucault ao colocarem para si mesmas questões não limitadas ao que se deve saber, perguntas restritas a um campo disciplinar, ainda que a partir dele interroguem, ou menos ainda questões submissas a uma vontade de verdade. As convidadas, sempre marcadas pela curiosidade de conhecer sem a obrigação de saber apenas o que se deve, ou de assimilar o que convém (Foucault, 2018), mas inclusive interrogar o "conhecimento libertado da relação sujeito-objeto", notadamente não confundem verdade e vontade de verdade.

A professora e pesquisadora Tatiana Carilly abre a série de conferências da 2ª edição do Workshop Estudos de Linguagem - O sujeito do presente: a potência da vida. Ela é autora do livro "O saber do jornalismo", obra na qual ela estende a indisciplina e a insurreição ante a vontade de poder. A professora e pesquisadora Giovana Carmo Temple revira o pensamento sobre o acontecimento, o sujeito e a sexualidade a partir de seu encontro com Foucault para nos convidar à experiência modificadora de si nos jogos de verdade.  Para encerrar as conferências, a professora e pesquisadora Lisiane Machado Aguiar compartilha suas investigações dos processos micropolíticos de produção de conhecimento acadêmico científico, especialmente na Comunicação. Considerando a perspectiva da Filosofia da Diferença, a convidada interroga:  como se produzem modos de subjetivação a partir das relações de saber-poder consitutivas da produção do conhecimento na atualidade.

O evento acontece ao abrigo do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea (UFMT), uma vez que o pensamento de Michel Foucault inscreve-se como ferramenta de crítica da cultura, de análise dos valores, das verdades e das práticas correntemente aceitas como universais e transmitidas aos sujeitos em saberes. O evento também integra o calendário de atividades do grupo de pesquisa Limiar. Ao longo de 2024, o grupo vem debatendo a obra "Vigiar e Punir" e as noções de acontecimento, genealogia e poder tanto de maneira remota em ciclos de leitura quanto de maneira presencial em aulas no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea.

Convidamos todas, todes e todos a participarem da 2ª edição d'O sujeito do presente: a potência da vida, revirar coletivamente o pensamento de Michel Foucault e manter pulsante, em nossos corpos, o descaminho genealógico.

Cada uma em sua trajetória encontrou-se com o pensamento foucaultiano sem confundirem verdade com vontade de verdade, o grupo limiar a elas recorrem na certeza de encontrar a potência de um pensamento movente, inquieto e até insolente

ARTIÈRES, P. Dizer a atualidade: o trabalho de diagnóstico em Michel Foucault. In: GROS, F. (Ed.). Foucault: a coragem da verdade. 1. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2004, cap. 1, p. 15 – 37. (Coleção Episteme)

PINHO, L. C. A trajetória do conceito de genealogia em Foucault (1971- 1984). Philósophos, Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFG, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 171 – 190, jan-jun 2014. Disponível em: https://revistas.ufg.br/philosophos/article/view/27029/16988. Acesso em: 09/06/2021.

RIBEIRO, C. E. Nietzsche, a genealogia, a história: Foucault, a genealogia, os corpos. Cadernos Nietzsche, Grupo de Estudos Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v. 39, n. 2, p. 125 – 159, maio/agosto 2018. ISSN 2316-8242. Disponível em: https: //www.scielo.br/j/cniet/a/FcXxgD47TV8KT6cf4VmX3BJ/?lang=pt#. Acesso em: 01/02/2022.


Programação

Workshop de Estudos de Linguagem 

O Sujeito do Presente 2. ed. a potência da vida


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